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Lavouras eletrônicas

08/12/2009
Que a saúde da terra é a primeira condição para a plena produção das lavouras todo agricultor sabe, não importa se ele comanda grandes ou pequenas propriedades. No entanto, a ciência do solo - ramo da Agronomia que estuda suas características físico-químicas - tem se apoiado cada vez mais nos avanços da tecnologia. Um exemplo concreto é a agricultura de precisão, sistema que utiliza equipamentos e sistemas eletrônicos par analisar o potencial de uma área em busca da maior produtividade. Há 17 anos, o professor José Alexandre Demattê, da Esalq - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, em Piracicaba, SP, trabalha com esse tema e acompanhou as evoluções do setor, que chegou no Brasil nos anos 80 mas deslanchou realmente na década seguinte. Demattê e sua equipe agora propõem ao produtor rural um grande pacote tecnológico para plantios totalmente modernizados. Segundo o professor da Esalq, a junção de imagens por satélite, fotos aéreas, sensores portáteis e GPS, por exemplo, resulta em mapas de solos mais detalhados. Essa ampla radiografia vai permitir ao agricultor escolher as melhores áreas para plantios, estabelecer onde será a reserva legal, economizar na aplicação de adubos e até mesmo identificar as variedades mais apropriadas de uma cultura, tudo em busca de produção mais farta. "O que acontece hoje em dia é o uso de um recurso ou outro que não retrata as condições que uma lavoura vai enfrentar ao ser implantada em determinado lugar", explica. Para turbinar esse mapeamento, o grupo de GeoCis - Geotecnologia em Ciência do Solo, coordenado por Demattê, sediou o projeto nas lavouras de cana-de-açúcar no interior paulista durante 2,5 anos (o mesmo procedimento, de acordo com ele, também poderia ser empregado em plantios de soja e milho). Por meio de sensores localizados em terra e em satélites como os norte-americanos Landsat e Aster, a equipe captou a energia (luz) refletida na terra através da radiação eletromagnética, que indica os graus de argila, areia, potássio, cálcio e matéria orgânica no solo. Segundo o professor, a técnica pode informar qual é o tipo dele e quais culturas ou variedades têm condições de progredir no lugar avaliado. Outra ferramenta utilizada pelos pesquisadores são os sensores ópticos, acoplados em uma pequena caixa que pode ser levada em uma mochila. Com custo em torno de R$ 60 mil e ainda pouco utilizado na agricultura, o equipamento capta a quantidade de energia refletida quando apontado para a terra. Os dados obtidos por essa leitura são avaliados por meio de modelos matemáticos que resultam na informação da composição do solo. "A vantagem é que ele diminui o número de coletas de amostras para análise em laboratório", esclarece o professor Demattê. Uma fazenda que envia para análise 500 amostras por hectare, por exemplo, poderia baixar esse volume para apenas 150 com o uso dos sensores. O aparelho faz a leitura das amostras em apenas um segundo, identificando o índice de fertilidade da terra. Mas ainda assim são realizados exames laboratoriais, como um veredicto final sobre as análises iniciais. Para o professor, o mais importante é que o produtor tem condições de diminuir 64% dos custos com esse serviço. As pesquisas do GeoCis também foram aplicadas no monitoramento ambiental com a utilização do sensor óptico na averiguação da presença de sangue bovino despejado de forma irregular - em geral proveniente de matadouros clandestinos - em áreas de pastagem e perto de riachos. "Verificamos que os solos são muito alterados na parte química, com excesso de sódio e modificações nos teores de nutrientes e pH", conta o pesquisador. Atualmente, a maior ambição da equipe coordenada por Demattê é integrar as informações provenientes de tecnologias diversas em um único software, para que o agricultor possa ter acesso a uma imensa radiografia da sua propriedade.


Janice Kiss
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